SOBRE O USO DO VÉU - BLOG VERBO-ETERNO

I Cor 11:6 - Sobre o Uso do Véu

"Portanto, se a mulher não se cobre com véu, tosquie-se também. Mas, se para a mulher é coisa indecente tosquiar-se ou rapar-se, que ponha o véu." I Cor 11:6
Corinto não era uma igreja de poucos problemas. Se analisarmos cuidadosamente as duas cartas que Paulo escreveu aos coríntios, veremos que esta igreja apresentou mais problemas do que qualquer outra nos dias apostólicos. Logo no primeiro capítulo da primeira carta, nos versículos 10 a 16, Paulo reclama a falta de consenso na maioria dos assuntos discutidos na igreja. Paulo se diz aliviado por ter batizado poucos crentes desta igreja, para que poucos usassem o seu nome em suas dissensões.
Em 3:1ss Paulo se queixa da imaturidade dos membros da igreja, dizendo que ainda necessitam ser alimentados com "leite" e não podem receber um alimento "sólido". Em 4:6 ele diz estar aplicando o ensino para que eles aprendam a não ir além do que está escrito. No capítulo 5 o apóstolo reclama a tolerância da igreja para com a fornicação, de forma que haja um homem que mantenha relações sexuais com a esposa do próprio pai, sua madrasta, e diante disso a igreja nem se importe. No capítulo 6, ele está estarrecido com a desvalorização do discernimento entre os crentes nas questões litigiosas. Os problemas graves entre os irmãos eram levados para ser resolvidos pelos ímpios, como se não houvesse entre os crentes um conselheiro aprovado.
Em 9:1ss Paulo precisa se defender de alguns que o condenam por ele aparentemente estar sendo sustentado pelos irmãos de alguma forma. Ele prova seu direito legítimo de deixar de trabalhar como os outros apóstolos, mas diz que prefere trabalhar para que crentes como os de Corinto não anulem a glória do Evangelho de Cristo por esta questão. O capítulo 10 mostra claramente o perigo que os irmãos estão correndo em participar da mesa do Senhor e da mesa da idolatria. O capítulo 11 apresenta apenas mais um dos muitos problemas que Paulo tratará em Corinto depois deste:
Como cidade grega que era, Corinto estava repleta de cultos pagãos. Entre os gregos pagãos estavam também os judeus helenistas e os novos convertidos ao cristianismo. A princípio, os primeiros cristãos da cidade eram, majoritariamente, vindos do judaísmo. Os costumes semíticos perduram por um bom tempo entre os primeiros cristãos por influência do passado judaico que estes tiveram. Entre os costumes semíticos estava o de as mulheres não se apresentarem publicamente com a cabeça descoberta, pois agindo assim estariam desonrando ao seu marido, que é o seu cabeça (11:3).
O culto a Afrodite, deusa da fertilidade, era muito popular na cidade. Neste culto, as mulheres se relacionavam sexualmente com vários homens, sobre os altares de Afrodite. Na ocasião das solenidades à deusa, as mulheres se apresentavam com a cabeça raspada, e a popularidade deste costume idenfificava automaticamente as mulheres carecas com as desvirtuadas mulheres do culto afrodisíaco, por este motivo as mulheres honradas mantinham seus cabelos sempre crescidos.
Para a glória de Deus, muitas dessas mulheres pagãs receberam o Evangelho de bom grado, assim como muitas outras mulheres pagãs que não participavam do culto da fertilidade, e que também não viviam o costume semítico de cobrir a cabeça.
Quando estas mulheres carecas ou de cabelos curtos se apresentavam nos cultos públicos com a cabeça descoberta, acontecia o escândalo, o costume era ferido e a ordem ameaçada.
De acordo com o costume, a mulher trazia sempre sobre a cabeça o sinal de autoridade (do marido), mesmo as solteiras que um dia iriam se casar. Apresentar-se publicamente com a cabeça descoberta denotava desobediência e desrespeito pelos homens, e ainda imoralidade. Na congregação, sempre acreditou-se na presença dos anjos durante o culto. A desordem moral, e a aparente falta de respeito com a cultura da maioria poderia resultar na perda da assistência angelical nas reuniões.
A questão do ensinamento de Paulo neste contexto era a (aparente) insubordinação das mulheres para com os homens nas reuniões da igreja. Quando a mulher desonra a sua cabeça, neste texto, a cabeça é o marido. O apóstolo está tratando de um problema cultural de uma igreja local, por isso deixa a critério dos crentes de Corinto o julgamento entre honra e desonra para uma mulher orar a Deus descoberta (v.13). Ele faz questão de lembrá-los que a mesma natureza lhes ensina que para o homem é desonroso ter os cabelos crescidos (v.14). Este é o ponto crucial para o reconhecimento do problema como sendo da cultura local e não uma infração da vontade divina. Caso o padrão moral para estes costumes fosse o divino, não seria desonroso para o homem ter o cabelo crescido, pois o próprio Deus exigia que os nazireus não cortassem os cabelos, assim como fez com Sansão. Ora, a honra de Sansão estava em seus cabelos, como então cabelos crescidos para o homem seria uma desonra? Na cultura dos judeus palestinos também os homens eram majoritariamente cabeludos.
Outra observação importante na questão do costume é o uso do véu em outras ocasiões, em contextos e épocas diferentes. Quando Rebeca encontrou Isaque pela primeira vez, assim que o viu e soube que seria ele o seu futuro esposo, ela tomou o véu e cobriu-se para reverenciá-lo (Gn 24:65). Judá confundiu Tamar com uma prostituta por ela ESTAR USANDO VÉU (Gn 38:15).
No caso das mulheres brasileiras, apresentar-se publicamente com a cabeça descoberta não é nenhuma desonra. Do ensinamento paulino aos coríntios, boa parte dos crentes brasileiros tem absorvido que para a mulher é honroso ter o cabelo crescido porque este lhe foi dado em lugar de véu, no máximo.
Não existe problema em uma igreja brasileira adotar o uso do véu, (como fazem a Congregação Cristã no Brasil e suas vertentes)  pois mesmo que isto pareça incomum diante da cultura local, a prática não fere padrões de dignidade e respeito. Há problema sim em "divinizar" o uso do véu como se Deus não ouvisse ou não aceitasse as orações de mulheres com a cabeça descoberta, pois isso não tem base bíblica nenhuma. O fato de o apóstolo Paulo incentivar o uso do véu na igreja de Corinto iria reparar um problema social e moral que prejudicava a qualidade do culto local, mas não tinha a intenção de fazer Deus ouvir orações que antes não ouvia.
Como saber se nossas mulheres devem ou não usar o véu nos nossos cultos? Faço minhas as palavras de Paulo: "Julgai entre vós mesmos!" e "Se alguém quiser criar contenda por isso, nós não temos este costume, nem as igrejas de Deus".

Por Cristo Jesus,
Marcelo Reis.

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